sábado, 22 de setembro de 2012

Carta a Diogneto


Excelentíssimo Diogneto, vejo que te interessas em aprender a religião dos cristãos e que, muito sábia e cuidadosamente, te informaste sobre eles: Qual é esse Deus no qual confiam e como o veneram, para que todos eles desdenhem o mundo, desprezem a morte, e não considerem os deuses que os gregos reconhecem, nem observem a crença dos judeus; que tipo de amor é esse que eles têm uns para com os outros; e finalmente, por que essa nova estirpe ou gênero de vida apareceu agora e não antes. Aprovo este teu desejo e peço a Deus, o qual preside tanto o nosso falar como o nosso ouvir, que me conceda dizer de tal modo que, ao escutar, te tornes melhor; e assim, ao escutares, não se arrependa aquele que falou. Os cristãos não se distinguem dos demais homens, nem pela terra, nem pela língua, nem pelos costumes. Nem, em parte alguma, habitam cidades peculiares, nem usam alguma língua distinta, nem vivem uma natureza singular. Nem uma doutrina desta natureza deve a sua descoberta à invenção ou conjectura de homens de espírito irrequieto, nem defendem, como alguns, uma doutrina humana. Habitando cidades Gregas e Bárbaras, conforme coube em sorte a cada um, e seguindo os usos e costumes das regiões, no vestuário, no regime alimentar e no resto da vida, revelam unanimemente uma maravilhosa e paradoxal constituição no seu regime de vida político-social. Habitam pátrias próprias, mas como peregrinos: participam de tudo, como cidadãos, e tudo sofrem como estrangeiros. Toda a terra estrangeira é para eles uma pátria e toda pátria uma terra estrangeira. Casam como todos e geram filhos, mas não abandonam à violência os récem-nascidos. Servem-se da mesma mesa, mas não do mesmo leito. Encontram-se na carne, mas não vivem segundo a carne. Moram na terra e são regidos pelo céu. Obedecem às leis estabelecidas e superam as leis com as próprias vidas. Amam todos, e por todos são perseguidos. Não são reconhecidos, mas são condenados à morte; são condenados à morte e ganham a vida. São pobres, mas enriquecem muita gente; de tudo carecem, mas em tudo abundam. São desonrados, e nas desonras são glorificados; injuriados, são também justificados. Insultados, bendizem; ultrajados, prestam as devidas honras. Fazendo o bem, são punidos como maus; fustigados, alegram-se, como se recebessem a vida. São hostilizados pelos judeus como estrangeiros; são perseguidos pelos Gregos, e os que os odeiam não sabem dizer a causa do ódio. Numa palavra, o que a alma é no corpo, isso são os cristãos no mundo. A alma está em todos os membros do corpo e os cristãos em todas as cidades do mundo. A alma habita no corpo, não é, contudo, do corpo; também os cristãos, se habitam no mundo, não são do mundo. A alma invisível vela no corpo visível. Também os cristãos, sabe-se que estão neste mundo, mas, a sua religião permanece invisível. A carne odeia a alma, e, apesar de não ter ofendido em nada, faz-lhe guerra, só por que se lhe opõe a que se entregue aos prazeres; da mesma forma, o mundo odeia os cristãos que não lhe fazem nenhum mal, porque se opõem aos seus prazeres. A alma ama a carne, que a odeia, e seus membros. Também os cristãos amam os que os odeiam. A alma está encerrada no corpo, é todavia ela que sustém o corpo. Também os cristãos se encontram retidos no mundo como em cárcere, mas, são eles que sustêm o mundo. A alma imortal habita numa tenda mortal. Também os cristãos habitam em tendas mortais, esperando a incorrupção nos céus. Provada pela fome e pela sede, a alma vai-se melhorando; também os cristãos, fustigados dia a dia, mais se vão multiplicando. Deus pô-los numa tal situação, que lhes não é permitido evadir-se.
        Escrita por volta do ano 120 d.C. – autor desconhecido.

Reflexão:
Longe o tempo se vai desde a escrita de tão bela missiva. Dista tanto, quanto os novos cristãos dos referenciados na carta.
Dar a outra face ao tapa, significa antes, insistir em mostrar a razão, se afastar, para que o outro reflita, e voltar a carinhosamente, mostrar-lhe o caminho, estreito, com pedras, mas o único que santifica, que leva ao Cristo Jesus.
Assim como Maria gestou, e trouxe à luz o nosso Redentor, devemos nós também, gestar Cristo em nossos corações e leva-lo ao mundo, um mundo que insiste em pecar, em se afastar da salvação, em ficar com as distrações proporcionadas pelo príncipe do mundo. Sejamos então, cidadãos do céu, habitantes na terra, desejosos ardentes em povoar os céus.